Doença do Jeca Tatu

22/07/2018

A ancilostomose é uma doença conhecida no Brasil como "Doença do Jeca Tatu". Monteiro Lobato retratou essa doença em seu conto "Urupês", publicado no dia 23 de dezembro de 191

Nesse livro o personagem Jeca Tatu é visto como um;

Bichinho feio, magruço, arisco, desconfiado, "sem jeito de gente", passava os dias de cócoras, pitando cigarro de palha e tomando pinga, alheio ao mundo a sua volta. Sem ânimo ia no mato caçar, tirar palmito, apanhar cachos de brejaúva, mas não plantava. (LOBATO, 1914)

Jeca Tatu vivia no Vale da Paraíba, um local que estava em péssimas condições de saúde e saneamento básico da população que vivia nas partes rurais, Lobato denuncia o vale, enfatizando as doenças que atingem a população, incluindo a ancilostomose.

José Bento Monteiro Lobato, conhecido popularmente apenas como Monteiro Lobato nasceu no dia 18 de abril de 1882, na cidade de Taubaté, interior de São Paulo. Formou-se em direito na Faculdade do Largo em São Francisco, porém abandonou a profissão rapidamente, pois era mal remunerado. Assim resolveu se tornar fazendeiro ao ter herdado as terras do seu avô. Em 1914 ocorreu uma seca terrível que acabava se agravando com as queimadas, o escritor percebeu que não poderia punir os responsáveis "pois eleitor da roça, naqueles tempos, em paga da fidelidade partidária, gozava do direito de queimar o mato próprio e o alheio."


Então ele decidiu escrever uma carta de protesto chamada "A velha praga", publicada no jornal O estado de S. Paulo 

"Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização..." 

Essa carta não teve muita repercussão, mas como Lobato gostou do tema escreveu o conto "Urupês", publicado no dia 23 de dezembro de 1914. O conto teve muito sucesso e foi ai que surgiu o Jeca Tatu, passando a ser o sinônimo de todo homem caipira, do interior. Como atingiu um nível nacional, Monteiro Lobato decidiu reunir seus contos em um livro também chamado "Urupês" que esgotou suas três primeiras edições rapidamente e se tornou uma polêmica nacional. 


A convivência com pesquisadores e a leitura do livro "O saneamento do Brasil" levaram o escritor a mudar completamente sua concepção do que significava ser um cabloco, assim, no prefácio da quarta edição de sua obra ainda no ano de 1918, se redimiu:

"Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte." (URUPÊS, 1914)

Na década de 20, o autor se envolveu com a política e em campanhas sanitárias, pois como as pessoas não tinham acesso à água encanada e tratada devidamente, e sem rede de esgoto, elas acabavam fazendo suas necessidades no mato ou em outros lugares também não apropriados como: buracos e valas, onde essas fezes poderiam vir a contaminar água e comida.


Em sua campanha denunciou a realidade nacional, acreditando que o nosso país era o mais rico do mundo em parasitas que realizam hematofagia e transmissores de doenças letais. Em seus textos apresentava estatísticas das parasitoses em seu tempo.


Em resposta às criticas ao seu patriotismo por expor a miséria que assolava o país chamava-os de "falsos patriotas". Acreditava que a situação econômica do país só viria a melhorar se o Brasil apresentasse uma alta crescente no índice de saúde coletiva e que não realizar isso era "morrer na lenta asfixia da absorção estrangeira." 


Em seu livro "Problema Vital" argumenta que de nada adiantava reformar a constituição, o código eleitoral ou fixar o serviço militar (temas comumente discutidos no Congresso) sobrepujando os temas de saúde pública. Acreditava que a população dos sertões estava abandonada aos bacharéis da república: Triatoma bacalaureatus. Criticou as elites "Legiões de criancinhas morrem como bichos de fome e verminose. Nós abrimos subscrições para restaurar bibliotecas belgas.


Algumas de suas críticas servem até hoje, como sua denúncia ás fraudes feitas nos produtos consumidos pelo povo. Também ironizou a falta de recursos destinados ao povo:

"Sempre cabem 50 réis para cada duodeno afetado. Esta quantia, reduzida a timol, dá para matar pelo menos uma dúzia de ancilostomos dos três milheiros que, em média, cada doente traz consigo. Os 2.988 ancilostomos restantes ficarão aguardando verba." (LOBATO, 1918)

Essa campanha de Lobato forçou o governo a tomar uma atitude diante ao problema sanitário, então foi criada a campanha de saneamento em São Paulo, comandada por Arthur Neiva. Dessa forma, houve a remodelação do código sanitário, transformado em lei.

Monteiro Lobato com a preocupação que tinha com as crianças escreveu uma cartilha, que recebeu o nome de "Jeca Tatu - a ressureição", popularmente chamada de "Jeca Tatuzinho", nela falava sobre hábitos saudáveis que se deve praticar como andar com seus devidos calçados e lavar as mãos sempre que possível. Essa cartilha é distribuída até hoje em algumas escolas para incentivar a prevenção de doenças, inclusive a ancilostomose.

Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia, e de várias filhinhas pálidas e tristes. Um dia, um doutor portou lá por causa da chuva e espantou-se de tanta miséria. Vendo o caboclo tão amarelo e chucro, resolveu examiná-lo.

- Amigo Jeca, o que você tem é doença.

- Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito que responde na cacunda.

- Isso mesmo. Você sofre de anquilostomíase.

- Anqui... o quê?

- Sofre de amarelão! (...). (LOBATO, 1935)

Essa cartilha é uma história em quadrinhos, que acabou virando muito popular divulgada em todo país através do Almanaque do Biotônico Fontoura. Na história Jeca, personagem considerado um bêbado preguiçoso por todos, descobria que sofria de amarelão, se tratava com a "ANKILOSTOMINA" e o "Biotonico" e no final, se transformava em um fazendeiro rico. 


Confira:

"Quero mostrar a essa paulama quanto vale um homem que tomou remédio de Nhá Ciência, que usa botina cantadeira e não bebe um só martelinho de aguardente." (LOBATO, 1935)

Dúvidas? A gente responde!

© 2018 Blog informativo | Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora